
Pense rápido: se você entrar em um site de e-commerce que nunca visitou antes, onde você espera encontrar o ícone do carrinho de compras? Provavelmente no canto superior direito da tela. E o logo da empresa, que também serve como um botão para voltar à página inicial? No canto superior esquerdo, certo? Essa previsibilidade não é coincidência. Ela é o poder do hábito digital em ação, um fenômeno que, quando compreendido e utilizado, pode transformar completamente a performance da sua loja virtual.
Este comportamento é a base de uma das mais importantes leis de UX (user experience): a Lei de Jakob. Em essência, ela nos ensina a respeitar os hábitos que nossos clientes já formaram ao navegar em outros sites. Portanto, neste artigo, vamos explorar como você pode usar esse poderoso princípio psicológico para criar uma interface familiar, reduzir a curva de aprendizado a zero e, consequentemente, construir uma jornada de compra sem atritos que impulsiona as vendas.
A LEI DE JAKOB: NÃO REINVENTE A RODA DO E-COMMERCE
Imagine que você vai dirigir um carro pela primeira vez. Naturalmente, você espera que o acelerador esteja à direita, o freio no meio e o volante à sua frente. Agora, por outro lado, imagine se cada fabricante de automóveis decidisse inovar, colocando os pedais em locais diferentes. O resultado seria o caos, a frustração e, provavelmente, muitos acidentes. Pois bem, no mundo digital, a lógica é basicamente a mesma.
A Lei de Jakob, nomeada em homenagem ao pioneiro da usabilidade Jakob Nielsen, afirma que: “Os usuários passam a maior parte do tempo em outros sites. Isso significa que eles preferem que o seu site funcione da mesma maneira que todos os outros que eles já conhecem.”
Isso acontece por causa de um conceito chamado “modelo mental”. Em outras palavras, os usuários não chegam ao seu site como uma folha em branco. Eles trazem consigo uma bagagem de experiências e expectativas formadas por anos de uso de outros sites e aplicativos. Quando o design do seu e-commerce quebra essas convenções, ele força o usuário a parar, pensar e aprender uma nova forma de interagir. Esse esforço extra, por menor que seja, gera atrito e pode ser o suficiente para ele desistir da compra.
ONDE APLICAR A LEI DE JAKOB NO SEU E-COMMERCE?
Aderir à Lei de Jakob não significa que seu site precisa ser uma cópia sem graça de outros. Pelo contrário, significa ser inteligente e aplicar as convenções de design onde elas mais importam, liberando sua criatividade para as áreas que realmente diferenciam sua marca.
A seguir, alguns exemplos práticos de como o poder do hábito digital se manifesta no e-commerce:
O cabeçalho
Esta é a área mais nobre e deve ser um porto seguro para o usuário.
- Logo no canto superior esquerdo: universalmente entendido como o botão “voltar para a página inicial”.
- Barra de busca em destaque: geralmente no centro ou na parte superior, fácil de identificar.
- Ícones de conta e carrinho no canto superior direito: os usuários instintivamente olham para esta área para fazer login ou verificar suas compras.
A estrutura da página de produto
A anatomia de uma boa página de produto segue um padrão bem estabelecido.
- Imagens à esquerda: a galeria de fotos do produto, com miniaturas clicáveis, fica tradicionalmente nesta posição.
- Informações e ação à direita: o nome do produto, preço, variações (cor, tamanho) e o botão principal “Adicionar ao Carrinho” ficam ao lado das imagens, facilitando a ação.
- Detalhes abaixo: descrições completas, especificações técnicas e, crucialmente, as avaliações de outros clientes, ficam localizadas abaixo da dobra principal.
Ícones e nomenclaturas universais
A linguagem do seu site deve ser instantaneamente reconhecível.
- Ícones: use uma lupa para a busca, um coração para a lista de desejos (wishlist) e um ícone de “play” para vídeos. Não tente ser excessivamente criativo com ícones funcionais.
- Termos (microcopy): utilize textos claros e diretos como “Finalizar Compra”, “Meus Pedidos”, “Frete e Prazo”. Trocar “Adicionar ao Carrinho” por “Levar para a Cesta” pode parecer charmoso, mas pode causar uma fração de segundo de dúvida que, em escala, afeta a conversão.
INOVAÇÃO COM RESPONSABILIDADE: QUANDO QUEBRAR A REGRA?
Então, isso significa que a inovação no design de e-commerce morreu? De forma alguma. A Lei de Jakob se aplica primariamente à usabilidade e funcionalidade, não à identidade visual da sua marca. Sua criatividade deve brilhar nas suas fotos, no seu logotipo, nas cores da sua marca, na sua tipografia e no seu tom de voz.
Quebrar uma convenção de usabilidade só é justificável em uma situação: quando a sua nova abordagem oferece um benefício tão claro, imediato e significativo que supera o pequeno custo mental de aprender algo novo. E, ainda assim, essa decisão deve ser baseada em dados sólidos e extensivos testes de usabilidade com usuários reais, não em uma simples preferência estética da equipe de design.
CONCLUSÃO: UM CLIENTE É UM CLIENTE QUE COMPRA
Em resumo, o poder do hábito digital é uma força da natureza no comportamento do consumidor online. Lutar contra ele é uma batalha perdida que gera frustração e abandono. A Lei de Jakob, portanto, não é uma restrição à criatividade, mas sim um guia para aplicá-la de forma mais inteligente.
Ao construir uma interface que respeita os modelos mentais dos seus usuários, você cria uma experiência fluida e intuitiva. Um cliente que se sente “em casa” e no controle dentro do seu site é um cliente que navega com mais confiança, encontra o que procura com menos esforço e, o mais importante, finaliza a compra. No final das contas, a melhor interface é aquela que se torna invisível, permitindo que o brilho dos seus produtos fale por si só.
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